Fator crucial para a transformação da vida musical e estética brasileira seria a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808. O Rio de Janeiro até então não se distinguia em nada de outros polos culturais do país, sendo mesmo inferior a Minas Gerais e aos centros nordestinos, mas a chegada da corte modificou essencialmente a vida e a situação, concentrando todas as atenções e servindo como grande estímulo a outra pujança artística, já de forma claramente classicista.
Procurou Dom João VI trazer consigo a vasta biblioteca musical dos Bragança - uma das melhores da Europa na época - e a presença de músicos de Lisboa foi inevitável, chegando os castrasti da Itália. Promoveu-se a reorganização da Capela Real agora com cerca de cinquenta cantores e uma centena de instrumentistas, e construi-se um suntuoso teatro, o chamado Real Teatro de São João.
A música profana contou com a presença de Marcos Portugal - nomeado Compositor da Corte e Mestre de Música dos Infantes - e de Sigismund Neukomm, compositores que contribuíram com quantidade considerável de obras próprias, além de também divulgarem na capital o trabalho de importantes compositores europeus, como Mozart e Haydn.
Sigismund Neukomm - Piano Concerto in C-major, Op.12 (1804): https://www.youtube.com/watch?v=G6JwBUqNeM0
Outras figuras interessantes desse período são: Gabriel Fernandes da Trindade, compositor de modinhas e das únicas peças camerísticas remanescentes do início do século XIX; e João de Deus de Castro Lobo, que atuou em Mariana e Ouro Preto.
Sabemos, através da documentação encontrada em arquivos, que conflitos entre os músicos europeus que aqui atuavam ocorriam com frequência, como quando se negaram a interpretar as obras do Pe. José Maurício Nunes Garcia, alegando ser o padre músico inferior por sua cor.
Neste ambiente conturbado por posições altamente egocêntricas e preconceituosas, atuou o primeiro grande compositor brasileiro, o padre José Maurício Nunes Garcia. Foi enviado para ser Mestre da Capela da Real Fazenda de Santa Cruz sendo afastado por Dom João VI em decorrência das intrigas do compositor Marcos Portugal e dos castrati.
Nesta época os compositores não se dedicavam exclusivamente à música religiosa ou à música profana.
Compositores se aventuravam em ambos os estilos.
Destaques para os compositores Luiz Álvares Pinto II e José Maurício Nunes Garcia.
O apogeu da Corte portuguesa no Brasil não durou muito: D. João VI foi obrigado a retornar a Lisboa em 1821 levando consigo a corte, esvaziando assim a vida cultural no Rio de Janeiro. Apesar do entusiasmo de Dom Pedro I pela música, sendo ele mesmo autor de algumas peças e da música do Hino da Independência, a difícil situação financeira gerada pela independência não permitia muitos luxos.
A figura central nestes tempos difíceis foi Francisco Manuel da Silva, discípulo do Padre José Maurício e seu sucessor como mestre na Capela. Sua obra refletiu a transição do gosto musical do Classicismo para o Romantismo, quando o interesse dos compositores nacionais recaiu principalmente sobre a ópera.
Retrato de Dom João VI. Pintura de Jean-Baptiste Debret,
1817
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O efeito da ópera perduraria até meados do século XX e seria o motivo para a construção de uma série de teatros importantes, como o Amazonas de Manaus, o Municipal do Rio, o São Pedro em Porto Alegre, o da Paz em Belém e diversos outros, todos de proporções majestosas e decorados com requintes de luxo. Neste campo a maior figura foi sem dúvida Antonio Carlos Gomes.
Falar de ópera no Brasil do século XVIII ao século XIX é falar do processo de assimilação dessa tendência, apesar tardia, introduzida na década de 1730 com a construção de teatros nos estados de Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Esses teatros ficaram conhecidos como Teatros Coloniais e designados como casas da ópera.
A primeira casa da ópera surgiu na cidade mineira de Sabará em 1730, destinada a espetáculos de pequeno porte em que muitas vezes apresentavam-se músicos que participavam das realizações de música religiosa.
As representações dos espetáculos teatrais muitas vezes eram traduzidas para o português até o século XIX. Com o passar dos anos, no século XVIII, as Casas da ópera foram paulatinamente substituídas por construções mais modernas, planejadas para abrigar um maior número de atores, cantores e instrumentistas além de acomodar melhor os espectadores.
O Teatro do Padre Ventura, como ficou conhecido na cidade do Rio de Janeiro, em 1767, foi um dos primeiros a florescer e acabou homenageado pelo povo com o nome de Ópera Velha na cidade carioca, sabe–se que esse teatro pegou fogo durante a representação da peça "Os Encantos de Medea”, de Antônio José, o Judeu.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
-Enciclopédia da música brasileira:
popular, erudita e folclórica. Reimpressão da 2a. ed. SãoPaulo: Publifolha,
s.d. (Disponível em:
https://play.google.com/store/books/details/Andr%C3%A9_Diniz_Almanaque_do_choro?id=1GcE9Cz9QC4C)
-MARIZ, V. História da Música no Brasil.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
-NEVES, José Maria. Música contemporânea
brasileira. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2008.
-SEVERIANO, J. Uma história da música
popular brasileira: das origens à modernidade. Editora 34, 2006
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