terça-feira, 30 de junho de 2020

6. Primeiros Pólos Culturais Brasileiros: Nordeste e Minas Gerais

Nos primeiros séculos de colonização, com o enriquecimento devido ao ciclo da cana de açúcar, o Nordeste Brasileiro passou por um período de desenvolvimento cultural, procurando assimilar a prática musical portuguesa. A prática musical foi centralizada principalmente nas maiores cidades da Bahia e Pernambuco, como Salvador, Recife e Olinda, embora pudesse ser vista em outros centros do Norte e Nordeste, como São Luís do Maranhão e Belém do Pará, com destaque para as capitais Salvador e Recife.
Caetano_de_Jesus_-_Escola_de_Canto_de_Órgão 
 
O Interesse pela música portuguesa criou um contato entre os músicos portugueses e nordestinos, sendo que alguns dos últimos chegaram a viver por um período em Portugal. O primeiro que se tem notícia, foi Francisco Rodrigues Penteado, pernambucano, que permaneceu por alguns anos em Portugal, até 1648, sendo que posteriormente trabalhou no Rio de Janeiro e São Paulo, onde faleceu em 1673. Compositores no Nordeste também levantaram interesse de autores e teóricos portugueses, José Mazza, em seu Dicionário Biográfico, cita os seguintes músicos do Nordeste: Caetano de Melo de Jesus (Bahia), Eusébio de Matos (Bahia), Manoel da Cunha (Pernambuco), Inácio Ribeiro Noio (Pernambuco), Inácio Terra (Pernambuco), Luís Álvares Pinto (Pernambuco) e o português Antão de Santo Elias (trabalhou na Bahia).

Ária (Fragmento de Recitativo e Ária) · Caetano de Mello Jesus - Os Mestres Mulatos: https://www.youtube.com/watch?v=RyrrKq5IXX8

A prática musical no Nordeste, na segunda metade do século XVII e durante todo o século XVIII, assimilou rapidamente o gosto português, logo chegando ao estilo barroco. A qualidade da música neste período era avaliada pela proximidade com a cultural portuguesa, sendo que quanto mais “portuguesa”, melhor a música.
Importantes músicos baianos no período colonial:
1. Gregório de Matos (1633 – 1696), poeta, cantor e compositor de canções;
2. Eusébio de Matos (1629 – 1692), irmão do anterior, foi compositor de música religiosa;
3. Antão de Santo Elias (1680 – 1748), compositor nascido em Portugal;
4. Nicolau da Miranda (1661 – 1745), organista, atuou na Santa Casa de Misericórdia de Salvador.
Quanto aos músicos pernambucanos, podemos mencionar músicos religiosos e circulares, sendo que quase toda a produção musical foi perdida.
Conhece-se os Mestres de Capela da igreja matriz de Olinda, sendo que os mais citados são:
1. Gomes Correia (segunda metade do século XVI);
2. Paulo Serrão (primeira metade do século XVII);
3. José Nascimento (? – 1733);
4. João de Lima (segunda metade do século XVII);
5. Antônio da Silva Alcântara (1711 - ?).
Dentre os músicos recifenses mais conhecidos e citados na documentação de época, incluindo a portuguesa, estão:
1. Manoel da Cunha (1650 – 1734), compositor;
2. Inácio Ribeiro Noia (1688 – 1773), compositor;
3. Luís Álvares Pinto (1719 – 1789), compositor, teórico e professor de primeiras letras;
4. Joaquim Bernardo Mendonça Ribeiro Pinto (? – 1834), compositor;
5. Agostinho Gomes (1722 – 1786), organeiro, instalou orgão em Rcife. Olinda, Salvador e Rio de Janeiro.
Te Deum Laudamus - Luis Álvares Pinto (Recife, Brasil , 1719 - 1789) - Integral: https://www.youtube.com/watch?v=D4GqDCRBz7I

Após este crescimento nordestino, as grandes escolas musicais brasileiras também cresceram em outros Estados, como por exemplo Minas Gerais.
Durante a segunda metade do século ocorre um grande florescimento musical conhecido como Escola Mineira ou Barroco Mineiro aconteceu na Capitania das Minas Gerais, especialmente na região de Vila Rica (atual Ouro Preto), de Mariana e do Arraial do Tejuco (hoje, Diamantina), onde a extração de grandes quantidades de ouro e diamantes destinados à metrópole portuguesa atraiu uma população considerável que deu origem a uma próspera urbanização. 
 
São Francisco de Assis, Ouro Preto
 
A vida musical, tanto pública como privada, religiosa ou secular, foi muito privilegiada, registrando-se a importação de grandes órgãos para as igrejas (incluindo um fabricado por Arp Schnitger, hoje na Catedral de Mariana) e de partituras de Luigi Boccherini e Joseph Haydn pouco tempo após sua publicação na Europa.
Neste período surgiram os primeiros compositores importantes nascidos no Brasil, muitos deles descendente de negros (mulatos), escrevendo em um estilo com elementos do Rococó, mas principalmente derivado de uma matriz Clássica.
Destacam-se entre os compositores que atuaram nesta região:
  • Manoel Dias de Oliveira;
  • Francisco Gomes da Rocha;
  • Marcos Coelho Neto (pai);
  • Marcos Coelho Neto (filho).

"Magnificat", Manoel Dias de Oliveira: https://www.youtube.com/watch?v=FDCIhzQq4Jc
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CASTAGNA, Paulo A. Música na América Portuguesa. In: História e Música no Brasil (Orgs. José Geraldo Vinci de Moraes e Elias Thomé Saliba). São Paulo: Alameda, 2010. p. 35-76
FREITAS, Mariana P. A “Escola de Canto de Orgaõ” do Padre Caetano de Melo de Jesus (Salvador da Baía, 1759-60): Uma súmula da tradição tratadística luso-brasileira do Antigo Regime. In: Anais do XVI Congresso da ANPPOM. Brasília: ANPPOM, 2006.

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