É impossível entender a música brasileira sem refletir sobre o êxodo de escravos africanos aos continentes americanos a partir de 1500. Todos os gêneros e ritmos ramificam dessa raiz e se consolidam nos séculos seguintes: o maracatu (no século 17), o baião (século 19), o choro (século 19) e o samba (entre o final do século 19 e começo do século 20). Depois, essa tradição forneceu elementos rítmicos e inspirou o surgimento da bossa nova, da tropicália, do mangue beat, do funk carioca e o DNA da África ainda é perfeitamente visível em trabalhos de artistas contemporâneos de destaque – como, por exemplo, o Baiana System, um dos principais fenômenos populares recentes. Porém, antes do surgimento desses ritmos, a história dos negros no Brasil já trazia formas de expressão que adubaram essa árvore genealógica. O candomblé e a capoeira estão entre elas.
Ambas manifestações eram praticadas nos quilombos e senzalas. O candomblé tornou-se uma religião brasileira de matriz africana e híbrida de elementos da fé dos negros trazidos de diferentes países, como Angola, Benin, Congo e Nigéria. O louvor aos orixás no ritmo do atabaque e a dança são aspectos das celebrações nos terreiros. A capoeira se popularizou como uma forma de arte marcial também associada à música, em que os golpes são desferidos na cadência do som do berimbau. Os instrumentos de percussão trazidos da África ou adaptados pelos escravos já no Brasil são fundamentais para a musicalidade tanto em um caso quanto no outro e seus fundamentos foram incorporados posteriormente na criação do samba.
Vimos que a música religiosa teve o mais importante papel na formação musical brasileira.
Para os jesuítas, o canto era considerado o elemento mais litúrgico, mais imprescindível de que podemos falar e que seja a entrada, o contato místico com o deus desmaterializado. É ainda um fluído sonoro vital, que libera pela boca um material melodioso que habita em nosso corpo.
E para os africanos, não era diferente. A música também era algo que vinha da alma, de um lugar especial, e ela era usada de forma religiosa e cultural.
Se pensarmos que em 1538 navios negreiros aportaram nos ancoradouro brasileiro transportando como “carga” os primeiros escravos trazidos da África trazendo na sua memória as músicas, danças, idiomas, macumba e candomblé – criando a base primordial de uma nova etapa fundamental na história inicial da música brasileira.
Mesmo com a vinda de grandes contingentes de escravos da África a partir do século XVI, sua raça era considerada inferior e desprezível demais para ser levada a sério pela cultura oficial. Mas seu destino seria diferente do índio.
Logo sua musicalidade seria notada pelo colonizador, e sendo uma etnia mais prontamente integrável à cultura dominante do que os arredios índios, grande número de negros e mulatos passaram a ser "educados" musicalmente - dentro dos padrões portugueses, naturalmente - formando orquestras e bandas que eram muito louvadas pela qualidade de seu desempenho. Mas a contribuição autenticamente negra à música erudita brasileira teria de esperar até o século XX para poder se manifestar em toda sua riqueza.
É importante assinalar ainda a formação de irmandades de músicos a partir do século XVII, algumas integradas somente por negros e mulatos, irmandades estas que passariam a monopolizar a escrita e execução de música em boa parte do Brasil.
Dois estilos musicais foram essenciais para a formação de nossas características rítmicas atuais, A modinha (européia) e o Lundu (africano).
Vamos conhecê-los?
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ANDRADE,Mário. Pequena História da Música. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1980.
CAMEU, Helza. Introdução ao Estudo da música indígena Brasileira Conselho Federal de Cultura e Departamento de Assuntos Culturais, 1977.
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