João Gilberto: o pai da Bossa Nova
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Em meados da década de 1950, durante o desenvolvimentismo do governo de Juscelino Kubitschek, houve um grande crescimento industrial, assim como o fortalecimento das instituições financeiras, trazendo de volta um sentimento nacionalista ao país, que tentava modernizar-se.
No final da década de 1950, neste contexto, surge a Bossa Nova, com a música Chega de saudade, interpretada por João Gilberto. Em suas origens, é bastante claro o diálogo da Bossa Nova com o jazz norte-americano, porém sem a influência negra desse estilo ou a presente no samba-canção, uma vez que foi criada por jovens da classe média que emergem como fim da Segunda Guerra.
"Chega de Saudade" (Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes) interpretada por João Gilberto: https://www.youtube.com/watch?v=eWXGsgI-QGk
Da esquerda para direita:
Vinicius de Moraes, Diogo Pachco,
Paulo Autran, Cyro Monteriro et Carlos Lyra (1965, Sao
Paulo)
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A percussão popular, um símbolo da música nacional até então, foi substituída pela multiplicação das síncopes e pela descontinuidade do acento rítmico da melodia e do acompanhamento. Além disso, a Bossa Nova adotou acordes dissonantes, assim como novos dedilhados e posições instrumentais. A estrutura rítmica de acompanhamento desenvolveu-se, deixando de ser simétrica para assumir uma estrutura própria, independente do cantar.
Insensatez – Nara Leão. Composição: Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
A exemplo das jazz-bands, presentes em boates, jovens da classe média carioca,como Tom Jobim, Nara Leão, Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal, passaram a se reunir para “samba-sessions”, sem hora para começar ou para terminar, e plena liberdade de improvisação. Nessas “samba-sessions”,os principais instrumentos eram o piano, o violão elétrico, o contrabaixo, o saxofone, a bateria e o pistão, utilizados para tocar um ritmo derivado da mistura do jazz com o samba.
Samba De Uma Nota So Nara Leao (Newton Mendonça / Tom Jobim): https://www.youtube.com/watch?v=qayWo4HDrlQ
Foi João Gilberto, porém, quem trouxe a maior inovação da Bossa Nova. Descoberto em uma boate de Copacabana, chamava atenção com seus improvisos e acordes compactos, por suas batidas econômicas no violão (conhecidas como “violão gago”), bem como por adotar uma estrutura de composição harmônica e rítmica da Bossa Nova,inovando a ambiência musical.
Samba de uma nota só – João Gilberto
O gênero foi bastante criticado pelos nacionalistas mais radicais, que alegavam ser uma moda passageira,apontando as influências do jazz e da música erudita nessas composições e seu distanciamento das raízes brasileiras.
A estrutura da bossa nova era mais intimista, destinando-se a espaços pequenos, como os encontrados no Rio de Janeiro e em áreas urbanas com maior densidade demográfica. Os temas das músicas eram extraídos do cotidiano, do humor, das aspirações e dos problemas da classe média da zona sul carioca.
Assim, a temática e a estrutura musical estavam relacionadas, promovendo um vocabulário expressivo, tanta na harmonia e no ritmo quanto nas letras dessas músicas, voltadas para a busca de um contato mais íntimo com o público. Suas músicas traziam muito do contexto sociocultural e do comportamento espiritual dessa juventude, com uma melodia sutil, com aspirações ao amor. Em suas letras, por exemplo, pode-se notar o amor desejado, eterno e grandioso, mas sublimado e simbólico, de maneira a ilustrar aspirações afetivas e humanas.
Minha namorada – Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Toquinho e Miucha
O cantor da bossa nova não se sobrepunha à banda ou aos instrumentos. Uma das características do gênero era o trabalho de equipe, em que se valorizavam todos os membros e profissionais envolvidos nas gravações, edições e composições gráficas das capas do disco. As capas dos discos também trouxeram uma grande inovação, ao substituir as fotos por ilustrações simples, às vezes geométricas, de uma estética racional mais moderna, fazendo uso da redução de cores, fundos brancos, entre outros artifícios.
Pode-se afirmar que, com a sua musicalidade e linguagem própria, a bossa nova apresenta-se como um reflexo do espírito de seu tempo, que revelou os anseios sentimentais e o olhar, às vezes denunciatório, dessa juventude.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
-TINHORÃO, J. R. História Social da
Música Popular Brasileira. São Paulo: Ed. 34, 1998.
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brasileira. São Paulo, Martins, 1965.
-MARIZ, V. História da Música no Brasil.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
-NEVES, José Maria. Música contemporânea
brasileira. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2008.
-SEVERIANO, J. Uma história da música
popular brasileira: das origens à modernidade. Editora 34, 2006
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