Marília Medalha, Edu Lobo e Momento
Quatro, durante apresentação de Ponteio no Festival de 1967
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Os Festivais da Canção, que tiveram seu auge no fim dos anos 60, foram eventos musicais que possuíam um apelo similar a uma final de Copa do Mundo dos dias de hoje, tamanha a mobilização da população que, literalmente, vestia a camisa de seu cantor e/ou música preferida, comportando-se como um verdadeiro torcedor.
Em abril de 1965 foi realizado o primeiro festival de música popular brasileira transmitido pela TV Excelsior.
Devido ao sucesso retumbante, a emissora promoveu, no ano seguinte, a segunda edição do evento, novamente cercado de pleno êxito. Foi tão grande a repercussão que a TV Record (SP) também decidiu investir no modelo e criou o seu próprio festival, ainda no ano de 1966.
2º Festival de MPB TV Record 1966 Jair Rodrigues - Disparada: https://www.youtube.com/watch?v=QonDtLlh1bI
Em 1967 foi realizado o III Festival de Música Popular Brasileira, pela TV Record, a versão mais famosa de todas, que revelou vários novos compositores e intérpretes que acabaram escrevendo um pouco da história da música brasileira, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elis Regina.
Paralelamente aos festivais paulistas, a então iniciante TV Globo lançou o Festival Internacional da Canção (FIC), que tinha o seu maior destaque na eliminatória brasileira, também lançando nomes definitivos na nossa música, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Raul Seixas, Beth Carvalho e muitos e muitos outros.
Geraldo Vandré (Pra não dizer que não falei das flores) ao vivo no III FIC - 1968: https://www.youtube.com/watch?v=0KGBS5TuDr4
Ao falar-se em música brasileira da década de 60 deve-se pensar em quatro gêneros: Jovem Guarda, Bossa Nova, Tropicália e MPB, que, por sua vez, eram divididos em dois grupos: os “alienados” - Jovem Guarda e Bossa Nova e os “engajados” - MPB e Tropicália.
Sob esse rótulo, a música “alienada” preocupava-se com o ciúme da namorada, com a velocidade do carro, com o barquinho, a praia e o sol. Já a música “engajada” abordava temáticas de cunho social, valorizando aspectos regionais.
As músicas da Jovem Guarda e da Bossa Nova eram consideradas apolíticas, no sentido mais exato da palavra. A Jovem Guarda por ser um subproduto do rock americano e a Bossa Nova por retratar o universo da classe média da zona sul carioca.
No III Festival da Canção (1968) Caetano Veloso defende a música “ É proibido proibir ”. O público não a recebeu bem, justamente por considerá-la ‘alienada’. Entretanto, este é um perfeito exemplo de música “engajada”, já que o próprio título foi extraído das palavras de ordem dos protestos universitários contra o autoritarismo ocorrido em Paris e conhecido como ‘Maio de 68’.
Capa do LP do III Festival da
Canção de 1968
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O Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record de São Paulo, teve quatro edições, em 1966, 1967, 1968 e 1969, com as seguintes vencedoras:
1966: "A banda" (Chico Buarque) empatada com "Disparada" (Téo de Barros e Geraldo Vandré), a primeira interpretada por Nara Leão e a segunda por Jair Rodrigues;
1967: "Ponteio" (Edu Lobo e Capinam), interpretada por Edu Lobo e Marília Medalha. Vale ainda ressaltar que, nessa edição, a segunda, terceira e quarta colocações foram respectivamente para as canções "Domingo no parque" (Gilberto Gil), interpretada por Gil e Os Mutantes, "Roda viva" (Chico Buarque), interpretada pelo autor e pelo MPB-4, e "Alegria, alegria" (Caetano Veloso), interpretada pelo compositor e pelo grupo argentino Beat Boys;
1968: "São São Paulo meu amor" (Tom Zé), interpretada por Tom Zé, Canto 4 e Os Brasões, na votação do júri especial, e "Benvinda" (Chico Buarque), interpretada por Chico Buarque e MPB 4, na votação do júri popular;
1969: "Sinal fechado" (Paulinho da Viola), interpretada pelo autor.
Além desses famosos festivais, ainda aconteceram:
I Festival Universitário de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Tupi em 1968;
I Bienal do Samba, promovida pela TV Record de São Paulo em 1968
I Festival Nordestino da Música Popular, promovido em 1969 pelos Diários e Emissoras Associados do Nordeste
Em 1975, foi realizado o Festival da Nova Música Brasileira
Em 1979, a TV Tupi realizou o Festival 79 de Música Popular
A TV Globo promoveu na década de 1980 o MPB-80
Em 1985, também pela TV Globo, foi realizado o "Festivais dos Festivais"
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
-Enciclopédia da música brasileira: popular, erudita e folclórica. Reimpressão da 2a. ed. SãoPaulo: Publifolha, s.d. (Disponível em: https://play.google.com/store/books/details/Andr%C3%A9_Diniz_Almanaque_do_choro?id=1GcE9Cz9QC4C)
TINHORÃO, J. R. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Ed. 34, 1998.
-ANDRADE, M. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo, Martins, 1965.
-MARIZ, V. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
-NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2008.
-SEVERIANO, J. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade. Editora 34, 2006
-WISNIK, J. M. O Coro dos Contrários. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1983.
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