Controladora Digital para Criação Musical
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O mercado fonográfico brasileiro se recupera somente na metade dos anos 90, auxiliado pela recuperação da economia nacional e o Plano Real de 1994 para combate à inflação para a estabilização da economia, recuperando o sexto lugar no ranking mundial em 1996 (PRESTES FILHO, 2005).
A segmentação do mercado fonográfico brasileiro continua, e novos gêneros como o Pagode, o Axé Music baiano, o Manguebeat pernambucano e o Rap Nacional se consolidam articulando elementos locais e globais (ZAN, 2001).
Entretanto, a palavra que talvez seja mais empregada quando se fala em mercado fonográfico brasileiro nos anos 90 seja tecnologia. Diversos autores apontam o desenvolvimento de novos suportes e mecanismos como essenciais para as mudanças que afetaram duramente o setor nessa década. A partir disso, podemos ressaltar dois pontos importantes: o crescimento da economia informal ou pirataria e o barateamento dos custos de produção.
Ainda que a pirataria ocorresse no Brasil já desde os anos 80 com as fitas magnéticas, a gravação digital e a consolidação do comércio de microinformática no país nos anos 90 foram determinantes para uma rápida expansão do comércio informal no período. A venda de fitas cassetes falsificados nos anos 80 chega a representar 35% do mercado brasileiro (PRESTES FILHO, 2005), enquanto que a de CDs chega a representar 53% (ABPD, 2005; IFPI 2005; PRESTES FILHO, 2005) colocando o Brasil entre os dez países prioritários para a ação anti-pirataria da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), segundo dados da própria entidade. A pirataria é apontada por muitos especialistas, críticos e profissionais ligados à grande indústria como o principal fator para a forte crise que afeta o setor há vários anos.
Equipamentos básicos para um Home Studio
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O desenvolvimento de tecnologias de gravação proporcionaram uma redução do custo de produção, permitindo que pequenos produtores e o próprio músico tivessem condições de montar um pequeno estúdio de boa qualidade (VIZZOTO E LOPES, 2005). Essa possibilidade de se ter um estúdio digital de qualidade a custos baixos permitiu uma pulverização da produção musical, possibilitando um retorno de vendas com quantidades cada vez menores de discos (VICENTE, 2005).
Mais próximo do final da década, há um renascimento do cenário independente, com o surgimento de diversas gravadoras e pequenos selos nacionais. Muitos deles tinham relações diretas ou foram montadas efetivamente a partir de convênios com as grandes gravadoras, que apostavam fortemente na terceirização da produção e controle dos meios de distribuição e difusão, algumas delas inclusive desmontando seus estúdios instalados no país:
É esse o contexto em que uma ressurgida cena independente mostra-se vigorosa o suficiente para substituir a grande indústria nas tarefas de prospecção, formação e gravação de novos artistas. Mas não foram apenas os fatores tecnológicos que propiciaram esse ressurgimento: também dessa vez a crise da indústria teve um papel decisivo: privilegiando desde o final dos anos 80 o sertanejo e a música romântica, além de severamente atingida pela recessão de 1990, a indústria demonstrava agora pouco interesse por segmentos como o rock e a MPB, ou por artistas que não fossem campeões de vendagem (VICENTE, 2006, p. 9).
Essa reconfiguração do cenário independente foi chamado por Bôscoli (2005) e De Marchi (2006b) de Nova Produção Independente, atuante até os dias de hoje.
Feito Em Casa · Antonio Adolfo (Gravadira Antonio Adolfo): https://www.youtube.com/watch?v=ikxeX6tY6dU
As grandes gravadoras estavam reestruturando suas ações a fim de otimizar lucros o que, como já visto, era sinônimo de terceirização e redução de seu elenco. Sendo assim, a reorganização desse setor independente era eminente, e contou com diversos ex-profissionais das próprias gravadoras. A profissionalização de suas produções era o principal objetivo, tanto que Almir Chediak, fundador da editora e gravadora Lumiar, afirma que “o importante nas produções independentes é que elas não tenham cara de independente”, remetendo à imagem artesanal e amadora que o termo independente adquiriu nas décadas anteriores (in VICENTE, 2006).
Emicida - Levanta e Anda (Feat:Rael) (Gravadora Laboratório Fantasma): https://www.youtube.com/watch?v=GZgnl5Ocuh8
23.1 Novos caminhos musicias
Ao mesmo tempo, as grandes gravadoras buscam alternativas para se firmar na venda legal de música pela internet. A venda de CDs e DVDs musicais no Brasil, estes últimos um dos responsáveis pela última recuperação da indústria fonográfica nacional no fim dos anos 90, caiu 12,9% do ano de 2004 para 2005 sendo, portanto, a venda de música digital a grande esperança e aposta das grandes gravadoras, que preparam diversas estratégias para consolidar este novo mercado que se apresenta (ARAÚJO, 2006). Dados oficias da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) mostram que a indústria da música caiu 7% em 2009, porém no Brasil e em mais 12 países apresentaram crescimento devido possivelmente à venda de música digital (IDG NOW, 2010).
A grosso modo, podemos dizer, segundo Vicente (in LEAL, 2005, p.5) que a indústria musical brasileira, responsável pela produção e distribuição das obras musicais no país, se dividem em dois modelos distintos de negócios denominados majors e indies, aproveitando termos já estabelecidos no cenário fonográfico. Esta divisão, para efeitos deste trabalho, se refere apenas aos modelos de negócios musical em si, distintas entre esses grupos. Não nos cabe, nas discussões aqui apresentadas, um sentido ideológico ou uma dicotomia que possa existir relacionadas a esses termos. Assim como aparece na pesquisa de Eduardo Vicente, esses termos foram utilizados somente para facilitar a compreensão pois já são bastante difundidos na literatura brasileira sobre o assunto, se referindo apenas a estrutura de produção musical e o modelo negócio em que se baseiam essas empresas.
Segundo Vicente, “a expressão major é utilizada para identificar todas as gravadoras transnacionais, grandes conglomerados internacionais que atuam em múltiplos setores e diversificam seus negócios, investindo em cultura e entretenimento” (VICENTE in DARBILLY, 2007, p.66). Já as indies representam um modelo de negócio alternativo, estabelecido nos anos 90, que pode ser definido como:
(...) muito mais que empresas nacionais, que não têm vínculo com conglomerados internacionais, as gravadoras independentes se relacionam com a ‘cena alternativa’. As indies brasileiras produzem artistas que fazem a música para nichos de mercado como o rap nacional, música eletrônica, a música brasileira de raiz e a nova música popular brasileira, entre outros (LEAL, 2005, p.5).
Durante a última década se estabeleceu quase que um consenso, principalmente através da imprensa, de que a indústria fonográfica mundial está em crise, ou que o CD está com seus dias contados, ou qualquer outro tipo de visão catastrófica epessimista.
Mas com o avança da mídia digital, e com o comércio online de músicas, com certeza ainda ganha-se muito dinheiro com a produção musical, além das grandes produções em shows e eventos.
Parece mesmo que apenas quem perdeu foi a criatividade.
A qualidade de certas músicas brasileiras já foi questionada por diversos personagens do universo artístico. Recentemente o cantor Victor, da dupla sertaneja Victor e Léo, fez um discurso ácido se referindo ao atual momento de nossa música sertaneja: "Não deixaria meus filhos ouvirem a maioria das músicas sertanejas atuais. Pornografia e sensualidade excessiva em canções não são para criança ouvir".
Infelizmente, boa parte das músicas aliena ao passo que não lança um olhar crítico a nossa sociedade. Pelo contrário, desvaloriza a mulher, incentiva a violência e cria um processo de comercialização de atitudes, ideias e comportamentos. Hoje, pouca novidade há na produção musical, além disso, até mesmo a música evangélica, que deveria servir para outro fim que não fosse meramente o lucro, tem vivido uma fase extremamente pobre.
O rock nacional também perdeu a sua criatividade.
Dançar é importante, assim como também mesclar a cultura brasileira com a latino americana, como fazem Anitta e Pablo Vittar.
A cantora e dançarina Anitta faz parte da nova geração de músicos brasileiros |
Mas não podemos deixar de lado a crítica, o pensar, o compreender social e a criatividade cultural.
Graças a Emicida, Gabriel O Pensador e alguns artistas ainda preocupados com esse desenvolvimento crítico nacional, ainda podemos ouvir novas criações que nos fazem pensar.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
- NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2008.
-Tag: Panorama da Música Brasileira Atual: https://ppgm.musica.ufrj.br/tag/panorama-da-musica-brasileira-atual/
- Matéria digital "Música Brasileira está cada vez mais pobre e banal; de quem é a culpa?": https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2017/06/29/estudo-inedito-mostra-que-musica-brasileira-nunca-foi-tao-pouco-complexa.htm