quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

2. Primeiros Rtmos, Primeiras Melodias

                            "O povo brasileiro" Imagem pertencente ao site https://plenarinho.leg.br/
Os primeiros passos de nossa música são muitas vezes associadas à música Barroca Europeia, nos fazendo referência á linda canção "O Guarani" do grande maestro Carlos Gomes.
De fato esta é a época em que a nossa música começou a ter uma identidade própria, quando começamos à criar o Choro, as marchas de carnaval, o Tango.
Porém nossa música está impregnada de características próprias da nossa Terra, músicas criadas por nossos índios.
Mas é difícil sabermos com certeza qual a função da música entre os povos indígenas antes da chegada do Europeu.
Mesmo depois de sua chegada, a visão eurocentrista dificultava a documentação do que se via nos anos 1500, isso devido à ideia de que nativo era sinônimo de não-cultural. Nativo era sinônimo de não-educado. Nativo era sinônimo de estúpido. Nativo era sinônimo de inferior. Nativo era sinônimo de não-civilizado.
Canidê-ioune (ave amarela), foi recolhida dos índios Tamoios por Jean de Leryem 1557, na Baia de Guanabara, nas imediações do Rio Carioca. A melodia, comose vê, é anterior à fundação da cidade. Composição: Anônimo (Rio, séc. XVI) eharmonizada para coro por Villa-Lobos no século XX.
"Ainda para algumas pessoas essa ainda é a ideia."
Mas vamos lá.
Para termos uma ideia do que aconteceu quando os portugueses chegaram aqui, precisamos nos situar com o que acontecia musicalmente lá no século XVI.
A Europa estava encharcada de música sacra, sendo que a música secular era por vezes proibida em grandes cidades.
Porém os navegadores eram pessoas comuns, e adoravam cantar e dançar.
The Sailor song - Celtic Music Portugal / Canção do Marinheiro - Música Celta Portugal
Em 26/04/1500, Pero Vaz de Caminha escreveu uma carta à corte portuguesa com alguns detalhes do contato deles com os nativos, fazendo uma pequena referência ao encontro musical:
"... Além do rio, andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante dos outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém, que é homem gracioso e de prazer; e levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras, e salto real, de que eles se espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo muito os segurou e afagou, tomavam logo uma esquiveza como de animais monteses, e foram-se para cima..."
Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha Esse era o começo da nossa jornada musical.
E além desse encontro, a cobiça fez com que franceses, ingleses e holandeses viessem para cá em busca de riquezas. Os franceses tentaram criar uma colônia para os seus dissidentes cristãos (calvinistas). Um desses dissidentes, Jean de Léry, tentou inclusive transpor um trecho de uma melodia indígena para a notação europeia.
Alguns europeus conseguiram se aproximar dos índios. Principalmente os jesuítas, que os viam como "cristãos sem instrução."
Dessa forma, os jesuítas aprenderam a língua Tupi, facilitando assim a interação entre eles. José de Anchieta usava a literatura cristã e a música para atrair os índios.
Com o conflito de interesse entre os colonizadores (queriam os braços fortes dos índios para o trabalho escravo) e os jesuítas (queriam as almas dos índios), os jesuítas tiveram a ideia de reunir os índios em aglomerados agrícolas (missões), onde eles "educavam" os índios e tentavam matar a cultura indígena.
Os curumins aprendiam a usar flautas, trombetas e violas.
Alguns índios até mesmo fabricavam instrumentos inspirados nos europeu, e os curumins aprendiam à cantar as músicas religiosas, usando melodias europeias existentes.
Povo Huni Kuin Índios Mapu e Ixã Exemplo de uma melodia indígena usada em uma canção com características cristãs
Durante o século XVII, os holandeses e suas companhias tentaram dominar o nordeste brasileiro, chegando até mesmo a controlar o tráfico de escravos.
Durante este período, os holandeses fizeram de Recife a capital do seu novo território. A arquitetura, a cultura e as letras floresceram como nunca nessas regiões, já que os bem sucedidos calvinistas vieram juntos com os holandeses.
Mesmo assim a música ainda era totalmente religiosa europeia, com características renascentistas (combinação de vozes em uma tecitura pouco variante, sem muita alteração melódica com uma malha polifônica contínua).
Música - Renaissance Castle (Castelo Renaissance)
E importamos a música europeia, tentando calar nossos índios e negros por muitos anos.
Os tambores africanos eram muitas vezes proibidos, assim como as suas lindas e tristes canções.
Mas isso iria mudar. A música africana entraria nas salas ricas da alta sociedade, suas danças estariam dentro dos palácios.
Além disso, apesar da pequena importância, vivenciamos algumas outras influências com o crescente intercâmbio cultural ocorrido no período com outros países além da metrópole portuguesa, elementos musicais típicos de outros países como a operística italiana e francesa e das danças como a zarzuela, o bolero e habanera de origem espanhola, e as valsas e polcas germânicas, muito populares entre os séculos XVIII e XIX.
Essa confluência de cultura desaguando no novo mundo tornou possível um estilo musical que modificaria os rumos da música brasileira no século XX.
Não percam a próxima postagem, porque agora o brasileiro irá criar a sua música.
Para saber mais:
Não seguindo o sistema tonal do ocidente, sua sonoridade da música indígena brasileira apresenta uma enorme sutileza e complexidade especialmente nos timbres e nas alturas, sendo de difícil transcrição para a partitura ocidental. Não existe desenvolvimento de polifonia ou harmonia reais (num sentido ocidental), sendo de uma espécie monódica (canto de uma pessoa só) ou no máximo heterofônica (duas ou mais pessoas fazendo a mesma melodia em alturas diferentes), com alguns exemplos de composição antifonal
(melodia curta, usada no canto gregoriano após a leitura de um salmo). Não existe notação, e o acervo de composições antigas é transmitido pela prática continuada entre as gerações.
A voz e o canto são dominantes na música indígena, mas existe um muito variado instrumental de apoio e séries de peças orquestrais autônomas. Na maioria dos casos a música é associada à dança ritual. O ritmo é fluente, em geral, binário ou ternário, às vezes
alternado em um mesmo verso. Muitas vezes sua música não está baseada na existência de uma unidade de tempo (pulso) rígida, gerando uma contínua flutuação do pulso. A estrutura das composições também diverge da ocidental, e é enormemente variada, dependendo bastante do texto que ilustra, tendo as repetições e variações um papel central.
A maioria dos povos indígenas associa sua música ao universo transcendente e mágico, sendo empregada em todos os rituais religiosos. A música indígena é ligada desde suas origens imemoriais a mitos fundadores e usada com finalidades de socialização, culto, ligação com os ancestrais, exorcismo, magia e cura. A sua música tem definido caráter socializador, estando presente em festividades grupais e na esfera privada, ou seja, a música constrói a sociedade, e não o contrário.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BERNARDES, R. Música Erudita Brasileira. (Disponível em: http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista12-mat1.pdf)
KIEFER, B. História da música brasileira; dos primórdios ao início do século XX. 3 ed. Porto Alegre: Ed. Movimento, 1982. 140p.
MARIZ, V. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

1. Introdução: De Onde Viemos, e Para Onde Vamos?

Talvez você já tenha ouvido a famosa
frase popular "Nossa cultura é muito rica".
E você já se perguntou o que issosignifica?
Sim, temos uma cultura rica devido à diversidade encontrada em nosso gigante território.
Mas de nada adiantaria um território gigantesco se não fossem os nossos percussores culturais semearem todos os seus conhecimentos em nossa terra fértil e ávida por novidades.
África, Europa, Ìndios.... Cada um contribuiu para que tivéssemos nossa cultura atual, para que ouvíssemos a diversidade musical existente em nossas rádios hoje.
Claro que alguns estilos musicais tem mais alcance ao agrado brasileiro do que outros.
Mas isto não significa que o brasileiro ouve um só tipo de estilo musical.
Samba, Choro, Frevo, Rock, Brarock, Funk, Rhythm and Blues, Blues, Soul...
Musicando, de Carybé
São muitos estilos, e com certeza você encontrará uma banda fazendo o seu estilo preferido.
Apesar de conhecermos a maioria dos estilos como estilos norte americanos, estilos estrangeiros, eu diria que a música brasileira é extremamente original e criativa, e que está sempre em transformação.
E a cada metamorfose sofrida, novas discussões surgem sobre a qualidade sonora de nossa música ou mesmo do gosto musical do brasileiro.
Bem, mas esta discussão nós professores de música não incentivamos, pois sabemos que existem músicos qualificados dentro de cada estilo.
A intenção desse blog é descobrirmos juntos um pouco mais sobre a nossa música, como ela se desenvolveu, como se transformou, quem nos incentivou, quem copiamos e como chegamos à este gosto, eu diria, peculiar do brasileiro.
Queremos novidades, adoramos novos artistas.
Mas precisamos conhecer nosso passado!!!

**Cada época, cada estilo musical e cada artista brasileira merece um livro em si, com riqueza de detalhes e lindas histórias. Sendo assim, infelizmente muitos artistas e muitos estilos musicais brasileiros não serão mencionados, mesmo sendo muito importantes, assim como muitas músicas também importantes para nossa história musical e cultural não serão apresentadas**


BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BERNARDES, R. Música Erudita
Brasileira. (Disponível em: http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista12-mat1.pdf)
KIEFER, B. História da música brasileira; dos primórdios ao início do século XX. 3 ed. Porto Alegre: Ed. Movimento, 1982. 140p.
MARIZ, V. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.